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Siti binti Saad, “a mãe do taarab”

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Fonte: https://www.dw.com

Foi a primeira mulher da África Oriental a editar um álbum musical. Nascida em Zanzibar, Tanzânia, Siti binti Saad influenciou fortemente o género musical “taarab” que era, até à época, cantado apenas por homens.

Siti binti Saad

Nascimento: em 1880 na aldeia costeira de Fumba, em Unguja, principal ilha de Zanzibar, que hoje faz parte da Tanzânia. Nascida numa família pobre, Siti Binti Saad vivia da venda de cerâmica na rua até se mudar para a cidade de Zanzibar, em 1911. Lá, começou a trabalhar com vários grupos musicais e tornou-se famosa como cantora de taarab, um estilo de música recente na época e que era uma espécie de poesia cantada acompanhada por um conjunto instrumental. A carreira de artista de Siti Binti Saad durou até à sua morte, em 1950.

Reconhecida por: ter sido uma estrela do estilo musical taarab, muito influenciado por ela. Dotada de uma voz bonita e poderosa, Siti Binti Saad foi convidada a cantar no palácio do sultão, e posteriormente em vários eventos da elite. Mas não era apenas para a classe alta que ela cantava. Siti binti Saad fazia regularmente espetáculos gratuitos em sua casa – que acabou por tornar-se um lugar de debate dos problemas sociais.

Pioneira: Antes de Siti binti Saad ter uma carreira no mundo da música, o taarab era geralmente interpretado por homens instruídos que cantavam principalmente em árabe – a língua da pequena elite de Zanzibar. Siti binti Saad, que não tinha ido à escola, foi a primeira cantora famosa deste género musical e popularizou a música taarab usando a língua suaíli. O seu papel era tal que a British Gramophone Company – uma das primeiras editoras de música do mundo, com sede no Reino Unido, – levou-a até Bombaím, na Índia, para gravar um disco, fazendo dela a primeira artista da África Oriental a editar um álbum de música.

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Escrevia sobre: Siti binti Saad transmitia as preocupações da classe trabalhadora nas músicas que escrevia. As letras que compunha falavam sobre a vida quotidiana em Zanzibar – por isso eram consideradas críticas sociais. Denunciavam a opressão da classe trabalhadora, a corrupção, o abuso de mulheres pelos homens e as deficiências do sistema legal. É por isso que se diz que o taarab é um estilo musical altamente político.

Siti binti Saad, “a mãe do taarab”

Escrevia sobre: Siti binti Saad transmitia as preocupações da classe trabalhadora nas músicas que escrevia. As letras que compunha falavam sobre a vida quotidiana em Zanzibar – por isso eram consideradas críticas sociais. Denunciavam a opressão da classe trabalhadora, a corrupção, o abuso de mulheres pelos homens e as deficiências do sistema legal. É por isso que se diz que o taarab é um estilo musical altamente político.

Inspiração: Siti binti Saad inspirou muitos músicos e abriu caminho a outras cantoras mulheres de taarab. Ela foi, por exemplo, a mentora de Bi Kidude, que também teve uma carreira brilhante neste estilo musical. Siti binti Saad conheceu o famoso poeta suaíli Shaaban Robert, que escreveu a sua biografia, “Wasifu wa Siti binti Saad”. Publicada após a sua morte, em 1956, este livro é um importante trabalho da literatura tanzaniana que ainda hoje é estudado nas escolas. Shaaban Robert descreveu as canções de Siti binti Saad como “o orgulho da África Oriental”, “uma grande luz na escuridão” deixada para a posteridade. Também a Associação de Mulheres Jornalistas da Tanzânia deu à sua revista, dedicada a questões femininas, o nome de “Sauti ya Siti” [“a voz de Siti”].

Legado: Siti binti Saad produziu mais de 250 músicas, mas apenas algumas das suas gravações originais permanecem até hoje. A sua música ainda é amplamente tocada em Zanzibar, na Tanzânia, e em outros países, e faz parte do repertório padrão de muitas bandas de taarab. O ano de 2017 ficou marcado pela criação do “Instítuto Siti Bint Saad”,que visa preservar as músicas que ainda restam e promover os valores e a cultura de Zanzibar.

adersan.online Já quando ganhava a vida a vender artesanato nas ruas, Siti binti Saad atraía os clientes com o seu canto

Já quando ganhava a vida a vender artesanato nas ruas, Siti binti Saad atraía os clientes com o seu canto

Conhecida como “a mãe do taarab”, Siti binti Saad foi a primeira mulher da África Oriental a gravar um álbum musical. No entanto, não foi só na música que deixou a sua marca. Ela desafiou também as normas patriarcais da sociedade.

“Wewe Paka” é apenas uma das muitas músicas gravadas por Siti binti Saad no final da década de 1920. Nesta época, ainda não existiam em Zanzibar estúdios de gravação. Por isso, e com o intuito de não deixar escapar a voz singular de Siti binti Saad, a British Gramophone Company levou-a a ela e aos seus músicos até Bombaím, na Índia. Resultado: mais de 250 músicas produzidas e 72 mil discos vendidos em apenas três anos – de 1928 e 1931.

Mayryam Hamdan é música e jornalista em Zanzibar. Conhece bem Siti binti Saad pois, para além de tocar as suas músicas, pesquisou muito sobre a sua vida. Em entrevista à DW, salienta as origens humildes de Siti e lembra o seu talento: “Ela tinha uma voz muito bonita, muito poderosa. Ela cativava facilmente o seu público”, conta.

Siti binti Saad não teve acesso a educação. Vivia da venda de cerâmica na rua e cantava para atrair a atenção dos seus clientes. Em 1911, trocou a sua vila pela cidade de Zanzibar. Aqui, começou a trabalhar com vários grupos musicais, a estudar árabe e a cantar em recitais islâmicos. Mas foi com a música taarab que ela se tornou realmente famosa. Na altura, este era um género musical recente. Havia sido criado pelo Sultão Seyyid Barghash bin Said e era cantado apenas por homens e na língua árabe. Mas Siti Binti Saad veio mudar completamente as regras.

Regras quebradas

Como conta Maryam Hamdan,Siti Binti Saad “cantou maioritariamente em suaíli”. E acrescenta: “as músicas que compunha tocavam diretamente o coração das pessoas, pois falavam sobre os seus problemas diários, as suas necessidades. Por exemplo, nas suas músicas ela falava sobre como as mulheres eram abusadas pelos homens, e também sobre o governo, em particular sobre o sistema legal”.

A crítica social foi, de facto, um aspecto importante da música de Siti binti Saad que, apesar de atuar para o Sultão de Zanzibar e para a elite da sociedade, em casamentos e outras festas, continuou sempre a realizar regularmente em sua casa espetáculos gratuitos. A jornalista de Zanzibar compara a “mãe do taarab” a uma “newsletter”, pois “cantava o que as pessoas queriam ouvir e o que queriam dizer ao sistema naquela época”.

Siti binti Saad morreu em 1950. Poucas das suas músicas originais resistiram até aos dias que correm, no entanto, algumas das suas canções ainda se ouvem na sua terra natal. “Na Rádio Zanzibar às vezes passam as suas músicas originais. Também há muitos grupos que as tocam. Ela tem canções muito bonitas, pois mistura vários estilos: árabe, indiano, africano, oriental e ocidental”, afirma Maryam Hamdan.

Siti Binti Saad abriu o caminho para muitas cantoras de taarab. Muitas vezes chamada de “a voz da África Oriental” ou “a mãe do taarab”, ela ajudou a tornar a cultura de Zanzibar conhecida em todo o mundo. Teve também um papel importante na expansão  das fronteiras políticas da música.

O projeto “Raízes Africanas” é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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