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Helen Joseph: A ativista anti-apartheid que arriscou tudo

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Fonte: www.dw.com/raizesafricanas

Nascida no Reino Unido, Helen Joseph abriu mão dos seus “privilégios” para desafiar o regime do apartheid na África do Sul. À DW, Carl Niehaus, veterano do ANC, garante que a ativista lutou “até ao seu último suspiro” .

African Roots | Helen Joseph

Nascida a 8 de abril de 1905, numa aldeia em West Sussex, Inglaterra, Helen Joseph passou a maior parte da sua infância em Londres. Licenciada em Inglês, Helen foi professora na Índia, antes de se mudar para a África do Sul, na década de 1930, onde casou com um dentista e se juntou ao clube dos sul-africanos brancos abastados. O seu trabalho como auxiliar da Força Aérea durante a II Guerra Mundial pode ter servido como um “abrir de olhos”, mas foi o seu trabalho como assistente social num centro comunitário que provavelmente a levou a juntar-se à luta contra o apartheid em 1952 – à semelhança de outros assistentes sociais notáveis como Winnie Madikizela-Mandela.

A DW falou sobre Helen Joseph com Carl Niehaus, um veterano do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul. Carl Niehaus foi porta-voz de Nelson Mandela e é atualmente membro do Comité Executivo Nacional da “Umkhonto Wesizwe Military Veterans Association”.

DW: Quando é que conheceu Helen Joseph?

Carl Niehaus (CN): Conheci Helen Joseph aos 19 anos e ela tornou-se uma das mentoras políticas mais influentes da minha vida.

DW: Como a descreveria?

CN: Ela era um ser humano altamente comprometido com os seus princípios. Foi fortemente influenciada pela visão cristã de que todas as pessoas criadas por Deus são iguais. Estava convencida de que o Estado racista do apartheid tinha de ser combatido. Por isso, envolveu-se no Congresso dos Democratas, que aderiu à aliança do ANC.

adersan.online Helen Joseph esteve à frente da organização da marcha reivindicativa que, em 1956, reuniu cerca de 20 mil mulheres na África do Sul

Helen Joseph esteve à frente da organização da marcha reivindicativa que, em 1956, reuniu cerca de 20 mil mulheres na África do Sul

DW: A aliança do ANC uniu partidos de todos os grupos raciais separados pelo apartheid. Porque é que lhe foi dada a ela a oportunidade de liderar esta aliança?

CN: A sua capacidade de articular os seus pontos de vista fez dela um dos líderes notáveis dessa aliança. Foi-lhe dada a oportunidade de ler as cláusulas da Carta da Liberdade durante o Congresso do Povo em Kliptown. E foi ela que conduziu, em 1956, a famosa marcha das mulheres até aos Union Buildings (“Edifícios da União”).

A 9 de agosto de 1956, 20.000 mulheres expressaram a sua raiva contra as políticas do apartheid. Umas das políticas mais criticadas era o facto das mulheres terem a obrigação de se fazer acompanhar por um passe, o que limitava a sua liberdade de movimento e as oportunidades de trabalharem e cuidarem das suas famílias.

DW: Quais eram alguns dos seus valores feministas?

CN: Ela acreditava que as mulheres deviam lutar por si próprias. Ela estava convencida de que as mulheres abusadoras mereciam ser punidas.

DW: Como é que esta mulher branca de origem inglesa se misturou com a resistência anti-apartheid?

CN: Ela estava empenhada numa sociedade não-racial/anti-racista e na obtenção de liberdade para todos os sul-africanos. Ela era a pessoa mais não-racial/anti-racista que alguma vez conheci.

DW: Helen Joseph esteve entre a primeira geração de ativistas anti-apartheid. De que se lembra mais sobre ela?

CN: Conheci-a já no final dos anos 70, mas ela ainda estava cheia de vigor e participava plenamente na luta anti-apartheid. Foi nessa altura que foi confinada à sua casa em Northcliff, Joanesburgo, durante cerca de cinco anos.

DW: O sistema não era conhecido por ser brando com a sua oposição branca. Testemunhou algum incidente de brutalidade que Helen Joseph tenha sofrido?

CN: Houve várias vezes em que os supremacistas brancos do apartheid foram a sua casa e dispararam, apesar de ela estar indefesa. Lembro-me de uma manhã, após um incidente deste tipo, que cheguei lá a casa e ela estava a varrer os vidros das janelas que tinham sido alvejadas. Ela estava extremamente zangada e não parava de dizer: “Eles podem matar-nos, mas nunca matarão o ideal da luta pela liberdade neste país.” Lembro-me também de quando ela me visitou quando fui preso. Ela foi ao meu julgamento e sentou-se na primeira fila, numa cadeira de rodas.

Quando eu ia a casa dela, pedia-me sempre que nos ajoalhássemos em frente a uma cruz de madeira que ela tinha posto sobre uma mesa. Mostrou-se veemente contra o narcisismo e o racismo.

adersan.online Helen Joseph foi presa e levada a julgamento por traição, juntamente com 155 outros réus

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DW: Quais os momentos do seu ativismo que ainda se lembra?

CN: Ela assegurava-se de que os detidos e as suas famílias fossem lembrados. Todos os dias de Natal, ela dava uma festa e ao meio dia em ponto fazia sempre um brinde e dizia: “Aos nossos camaradas ausentes”.

DW: Lembra-se dos seus últimos dias?

CN: Ela foi uma lutadora até ao último suspiro. Eu estava à beira da cama dela quando morreu, no dia de Natal, exatamente ao meio-dia. Ela morreu num hospital em Joanesburgo, que agora é conhecido como Helen Joseph. Isto foi em 1992, quando o caminho para a África do Sul democrática foi traçado. A alteração do nome do antigo Hospital J. G. Strijdom em 1997 foi uma vitória póstuma sobre a primeira-ministra da altura. Foi um dos muitos atos simbólicos realizados pelos camaradas de longa data de Joseph.

DW: Ao longo dos anos, Helen Joseph concordou sempre com outros líderes da luta?

CN: Em algumas das minhas últimas conversas com Helen Joseph, ela mostrou-se preocupada com o facto do Presidente Nelson Mandela e do Congresso Nacional Africano se estarem a começar a comprometer demasiado durante as negociações. Sentiu que o projeto de reconciliação estava a ser promovido à custa da justiça.

O parecer científico sobre este artigo foi dado pelos historiadores Lily Mafela, Ph.D., professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto “Raízes Africanas” é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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