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Konstanze Fischer | rl
09/07/20189 de julho de 2018
Ahmeda Baba foi um dos grandes intelectuais africanos do século XVI e deixou uma obra que é hoje Património da UNESCO. Ahmed Baba escreveu sobre a escravidão, biografias de grandes estudiosos da época e uma gramática árabe.
Nascimento: em 1556. Algumas fontes dizem que Ahmed Baba nasceu em Araouane, localizada a cerca de 250 km a noroeste de Tombuctu, uma cidade no norte do Mali. No entanto, é mais provável que tenha nascido em Tombuctu, onde a sua família se havia estabelecido antes. Ahmed Baba era um dos professores das famosas mesquitas de Tombuctu. Após a conquista da cidade, em 1591, pelo sultão marroquino Ahmed Al-Mansur, Ahmed Baba foi deportado para Marrocos. Durante os 12 anos de exílio, continuou o seu trabalho em Estudos Islâmicos. Voltou a Tombuctu em 1608, onde morreu em 1627.
Reconhecido: Ahmed Baba ficou conhecido pelos pelos seus manuscritos que lidam em particular com questões legais relacionadas com o Islão e o modo apropriado para um crente praticar a sua religião. Hoje, o nome de Ahmed Baba está associado aos tempos áureos de Tombuctu.
Qual a filosofia de Ahmed Baba? Este estudioso esforçou-se na reaproximação de diferentes grupos étnicos que viviam em Tombuctu na época. Para ele, as diferenças étnicas contribuíam para o conhecimento. Apesar de o manterem em cativeiro, os marroquinos reconheciam que Ahmed Baba era um importante estudioso.
Criticado: No seu tratado sobre a escravidão, Ahmed Baba escreveu que os muçulmanos não poderiam ser mantidos como escravos, independentemente da sua origem ou cor de pele. Na época, os escravos eram um dos principais “produtos” negociados em Tombuctu. A sua compreensão da lei islâmica era vista como radical. Ele defendia a igualdade de todos os muçulmanos diante de Deus. No entanto, Ahmed Baba não condenava a prática da escravidão como um todo, escrevendo que era legítima para os não-muçulmanos.
Lembrado: Durante seu exílio em Marrocos, Ahmed Baba ansiava voltar ao seu país de origem. “Ó vós que ides a Gao, fazei um desvio para Tombuctu e murmurai o meu nome aos meus amigos. Deem-lhes as minhas saudações com o aroma do exílio”. Ahmed Baba é admirado pelo seu conhecimento e sabedoria, mas também pela sua coragem em enfrentar os invasores marroquinos. É admirado ainda pela sua ligação à sua terra natal, Tombuctu.
Legado: O Instituto de Ensino de Estudos Avançados e Estudos Islâmicos do Centro Ahmed Baba de Tombuctu, onde existem cerca de 30.000 manuscritos, e que é considerado uma das principais coleções africanas de textos académicos islâmicos e crónicas históricas, tem o seu nome, assim como uma cratera no Planeta Mercúrio. Ahmed Baba é hoje um ícone nacional no Mali.
No início do século XVII, Ahmed Baba morava em Tombuctu, uma cidade próspera graças à universidade islâmica de Sancoré – famosa em toda a África Ocidental – e ao comércio, especialmente de escravos. E foi nesta altura que recebeu um pedido: “Caro Ahmed Baba, nós, os habitantes de Tuat, recorremos a si, jurista de Tombuctu, para que nos ilucide sobre a questão da escravidão. Gostaríamos de saber se os negros africanos são escravos por natureza, ou se, uma vez convertidos e muçulmanos, devem ser livres. Qual a sua opinião sobre esta questão? Ficamos-lhe gratos”.
A resposta de Ahmed Baba aos habitantes de Tuat veio em forma de uma “fatwa” – opinião legal nas comunidades islâmicas.
Em entrevista à DW, Bernard Salvaing, professor emérito de História e especialista em cultura manuscrita do Mali, explica que nesta “fatwa”, Ahmed Baba “enfatiza que a escravidão só é legítima para os não-muçulmanos, independentemente da sua origem, seja ela negra ou branca, que não é uma questão de raça”. Nesta altura, lembra o professor, “havia preconceitos na mente de várias pessoas de que os negros eram escravos e pagãos por natureza”, e por isso, “a resposta de Ahmed Baba era considerada inovadora”. Ao mesmo tempo, “é claro, legitima, do ponto de vista da lei islâmica, a captura de não-crentes durante a jihad”, diz Bernard Salvaing.
Além da escravidão, Ahmed Baba também toma uma posição contra a anexação da sua cidade pelos marroquinos. A 30 de maio de 1591, Tombuctu cai nas mãos do sultão marroquino Ahmed Al-Mansur.
Prisão e exílio
Ahmed Baba e vários outros intelectuais são presos e levados algemados para o exílio em Marrocos. Depois de vários meses detido, é posto em prisão domiciliária em Marraquexe, também em Marrocos. Impressionado com o seu conhecimento, o sultão autoriza-o a ensinar. A sua fama estende-se no Magrebe e é durante este longo exílio que Ahmed Baba termina um dos seus mais famosos manuscritos: o Kifayat al-Muhtaj – uma obra que contém várias centenas de textos biográficos sobre grandes eruditos e estudiosos que viveram entre o século XIII e o período em que viveu Ahmed Baba.
Como explica Bernard Salvaing, esta obra é para “os historiadores uma fonte muito importante para conhecer a história intelectual do seu tempo”. Em “Kifayat al-Muhtaj”, Ahmed Baba fala de estudiosos do Magrebe e da Espanha, o que, na opinião do professor de História, “mostra a continuidade entre essa cultura muçulmana do Mediterrâneo e a cultura muçulmana erudita de Tombuctu, que está totalmente integrada neste mundo muçulmano do Mediterrâneo”.
É somente após a morte do sultão Ahmed al-Mansur que Ahmed Baba pode voltar para casa. Morre em Tombuctu em 1627, aos 71 anos de idade, deixando mais de 60 manuscritos. Ahmed Baba escreveu sobre questões legais – tanto práticas religiosas, como relações sociais -, mas também sobre gramática e educação árabe. Hoje, estudantes e investigadores podem admirar e decifrar cópias destes manuscritos no Instituto de Ensino de Estudos Avançados e Estudos Islâmicos do Centro Ahmed Baba.
Ícone nacional
Bernard Salvaing lembra que Ahmed Baba se tornou “um ícone nacional no atual Mali”. “Ahmed Baba e o seu tempo representam o fim da grandeza de Tombuctu. Além disso, identificamo-nos com ele quando ele enfatiza a igualdade de todos os crentes diante de Deus, independentemente da sua origem e cor de pele. E depois claro, há também a resistência dele ao seu ocupante, Marrocos, que o levou a ser deportado”, explica.
O projeto “Raízes Africanas” é financiado pela Fundação Gerda Henkel.